Mói e flota tudoㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ

Esse é o principal problema da mineração, que se tornou mero gerador de oportunidades para grupos globais fornecedores de máquinas, serviços e insumos, em um boom comercial voltado para o tratamento absurdo de cada vez mais ganga, “favorecidas” pela queda dos teores. Um leitor atento poderá observar que o grosso das iniciativas de “melhorías” é voltada para os rejeitos: filtrar, fazer “tijolos”, descobrir “tesouros escondidos” ou terras raras dentro das barragens e etc., ou seja, continuar gastando com o que poderia ter sido radicalmente reduzido em sua origem.

A mineração chilena está parecendo uma velha impressora, abrindo cada vez mais espaço para o verdadeiro negócio mineral mundial: a venda de tinta (toner). O negócio global não quer produzir mais, mas sim aumentar a “tonelagem” do tratamento.

As associações patronais clamam por maiores investimentos (ou pelo risco de eventual redução destes), mas, na verdade, foram investidos em média no Chile quase 10 bilhões anualmente, nestas últimas duas décadas, apenas para moer e flotar ganga, ou seja, comprar mais tinta para a impressora. Se hoje é moído e flotado o dobro de minério para produzir o mesmo cobre fino de 20 anos atrás, fica claro que quem sai ganhando são os fornecedores globais de máquinas, insumos e serviços, hoje agrupados em pouquíssimos grupos. Um investidor não quer necessariamente fazer mineração, mas sim ganhar dinheiro com isso.

O problema fica evidente quando esse “arranjo comercial” atinge pequenos produtores que trabalham com moeda local, como é o caso hoje da ENAMI (Chile).

PROBLEMAS DE ENAMI

Na última semana várias notícias comentam uma grave crise na ENAMI. Junto com a queda de teores, devido à política absurda de “moer e flotar tudo”, a ENAMI vem recebendo cada vez mais ganga nos minérios recebidos, enchendo suas barragens de rejeitos e esgotando a capacidade física de suas instalações.

A ENAMI poderia pré-concentrar no local de recebimento, secar, pagar pelo pré-concentrado e exigir que o produtor devolva o excesso de ganga ao seu depósito. Com as mesmas instalações, a ENAMI produziria mais, com pré-concentrado mais rico e com menor geração de rejeitos. Essa prática poderia ser estendida para pequenas minas, reduzindo o transporte de resíduos nas rodovias.

Alexis Yovanovic

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