QUO VADIS CODELCO?ㅤㅤㅤㅤㅤ

NEGÓCIO MINERAL

Codelco segue, há mais de 20 anos, as regras de um mercado que vê a mineração como um mero negócio financeiro global, onde grandes grupos de investidores têm participações cruzadas entre mineradoras e fornecedores de máquinas, serviços e insumos e encontram espaço para investir e gerar lucros devido ao conjunto da “atividade mineral”, focada em beneficiar o minério (toneladas por hora) e não necessariamente em fazer prosperar as mineradoras, em sua missão particular.

Até a década de 1990, antes da globalização desenfreada, as fábricas locais respondiam por grande parte da demanda nos países produtores e hoje, após um processo de compras e fusões caminhando para o gigantismo, são poucos os grupos mundiais fabricantes de equipamentos, que podem ser contados nos dedos de uma única mão. Por isso, não existem nesse mercado mineradoras prósperas em países periféricos, com inúmeros fornecedores locais e caminhando para sua verticalização industrial, mas apenas poucos grandes fornecedores globais em países desenvolvidos, que lucram com centenas de mineradoras que moem ganga por décadas, sem aumentar sua produção metálica.

A contribuição fiscal das mineradoras vem despencando. A mineração chilena é um “espaço de negócios” para hospedar o capital financeiro global, endividando os chilenos ao produzir o mesmo cobre metálico, acumulando rejeitos e gerando atividade para poucas fábricas de máquinas e insumos nos países desenvolvidos.

MÓI E FLOTA TUDO

Grandes investidores globais utilizam as mineradoras para gerar riqueza extra, pois entendem o negócio de mineração com base na quantidade de minério (tonelagem) que passa pelas unidades produtivas (o que gera mais investimento e custos com máquinas, serviços e insumos de fornecedores globais) e não pela produção efetiva de metal, considerando que a produção chilena de cobre está estagnada há mais de 20 anos, mantendo uma taxa de investimento de quase 10 bilhões de dólares a cada ano, quase tudo para tratar cada vez mais ganga. Grandes fornecedores prosperam com a política de “mói e flota tudo” (o que sai da mina), independentemente da queda drástica dos teores nas jazidas. Já noutras unidades de extração, a céu aberto (com grandes oportunidades de preconcentração do minério, enriquecendo-o e descartando ganga seca o antes possível), é mantida a política absurda de “mói e flota tudo.

Em resumo, há 20 anos a mineração deixou de ser uma atividade produtiva e hoje apenas extrai, mói e acumula rejeitos, sem produzir um quilo a mais de cobre fino.

FUNÇÃO DO ESTADO: Manter o privilégio de seus funcionários sindicalizados

Nesse ambiente de negócios, Divisões como El Teniente, Andina e Chuquicamata atualmente dependem de obras estruturais para se manterem ativas, apesar de que a rigor, após décadas de produção, sua vida útil foi mais do que cumprida. Codelco tem procurado mitigar o problema social que seria gerado com o eventual encerramento destas Divisões, aprofundando os depósitos em busca de lampejos de futuro que deem alguma subsistência e manutenção de privilégios aos seus funcionários, fortemente sindicalizados. Codelco, em suma, trabalha praticamente em prol de grupos fornecedores globais e para garantir conforto e segurança aos seus quase 15.000 funcionários.

VISÃO DO FUTURO: Cavando para o fundo e encerrando novas explorações

As tentativas de busca por novas jazidas, inclusive no Brasil, acabaram deixando a Codelco no mero papel de tímida observadora, mantendo-se distante de boas descobertas feitas por terceiros. Atualmente Codelco segura a mão da Rio Tinto, em uma nova atitude de não saber fazer mineração extrativa por conta própria em benefício do povo chileno.

Segundo informações da Cochilco, décadas atrás Codelco tinha a intenção de ampliar seus horizontes por meio da exploração mineral, ficando em primeiro lugar no Ranking das 15 maiores em área de exploração (19,3% do total em 2006; 9,6% em 2010 e deixando o primeiro lugar para a BHP em 2015, caindo para apenas 1,7%). Já em 2020, a Codelco nem aparece no ranking (figura abaixo, do Anuário da Mineração Chilena, Sernageomin, 2020). Nas últimas décadas Codelco foi forçada a parar de pensar no futuro do Chile. Codelco, como um pássaro sem asas, continua bicando no mesmo lugar e cada vez mais fundo, com dinheiro de milhões de chilenos, para proteger os seus funcionários.

TECNOLOGIA ENGESSADA HÁ 40 ANOS

Na década de 1970, trabalhando em El Teniente (antes desta Divisão pertencer à Codelco), emiti parecer contrário à tecnologia SAG como opção de expansão (depois escrevi um livro no Brasil com um capítulo inteiro dedicado aos moinhos SAG). O moinho SAG de El Teniente, após vários anos de operação, provou ser menos eficiente do que a moagem convencional. Até os antigos moinhos de Sewell são mais eficientes (publicação disponível na internet). Essas informações não chegam à matriz da Codelco? No Brasil, combatidos pela MOPE e após fracassos gigantescos, os moinhos SAG foram desaparecendo das rotas de processo.

“Moagem SAG: acabou o mito?“, Revista Minérios Nº 290, Setembro/Outubro 2006

“Moagem SAG: acabou o mito? – Parte 2“, Revista Minérios Nº 295, Maio 2007

Este é o efeito da influência “privada” e global nos negócios da Codelco, o inimigo da inovação real. O Chile merece mais criatividade da sua principal empresa pública.

A Divisão Salvador (que quase encerrou suas operações há pouco tempo atrás) possui plenas condições para – pelo menos – testar a opção de Concentração Seletiva em escala piloto. O ministro Hales, na contramão da história e dos interesses da Codelco, avança com um novo projeto absurdo “mói e flota tudo”, com tecnologia de 40 anos atrás, incluindo o moinho SAG, cavalo de Tróia de grandes grupos fornecedores de máquinas, insumos e serviços, além de outros erros técnicos. Esse projeto merece uma urgente revisão.

No Chile existe um laboratório conveniado com a MOPE, na cidade de Coquimbo (incluindo alguns equipamentos fabricados no Brasil sob nossa orientação), para realizar testes de Preconcentração e Concentração Seletiva. Para caracterizar os tipos de mineral (Unidades Geológicas) e conhecer seu potencial de preconcentração, bastam 50 kg de amostra.

DISCURSOS ESG, LÍTIO E OUTRAS MANOBRAS DE DISTRAÇÃO

Codelco se esconde em discursos ESG de todo o tipo, numa clara manobra de distração para uma população que nem sempre compreende estas questões. O Lítio, por exemplo, é um assunto que talvez devesse ficar nas mãos de SOQUIMICH (outra estatal chilena) em vez de usá-lo na Codelco como uma distração para executivos que também parecem não entender muito de cobre. Privatizar? Quem vai querer?

Nesta rodada de discussões proposta pelo Colégio de Engenheiros do Chile para 18 de agosto: QUO VADIS CODELCO, e em eventuais discussões posteriores, estamos à disposição para discutir, esclarecer e fornecer mais informações, tanto sobre nossas declarações quanto sobre as soluções que consideramos mais adequadas para enfrentar, não somente a queda nos teores, mas também ajudar a libertar a Codelco de sua alienação por interesses privados globais e contrários aos interesses do Chile e de sua população.

MOPE – Nueva Estrategia para Concentración de Cobre

Alexis Yovanovic

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *