Mauricio Drumond (Q.E.P.D.)ㅤㅤ

A COVID fechou o seu cerco e se instalou no nosso círculo mais íntimo de amigos e familiares. Durante a madrugada desta sexta-feira recente meu amigo e colega Mauricio Rocha Drumond não resistiu à doença e partiu para longe do nosso convívio. Mauricio Drumond “eram muitos Maurícios” e tenho certeza que, numa ou mais das formidáveis passagens do “Beijoca” pela mineração brasileira, ele possa ter cruzado e iluminado muitos de nós.

Conheci Maurício no verão de 1987, a poucos dias da minha chegada ao Brasil, procurando emprego. Foi o meu primeiro amigo e colega que conheci no Brasil. Trabalhamos juntos na Paulo Abib Engenharia e logo na CVRD. Quase todos os dias pegávamos carona no seu velho furgão azul, desde a PAA (bairro São Francisco) até o começo da Savassi. Mauricio, sempre sorridente e brincalhão, com barba espessa e óculos de fundo de garrafa, era na época um jovem idealista e cheio de sonhos, como recém saído de um show de Milton Nascimento e Mercedes Sosa, cantando Coração de Estudante.

Mauricio abriu para mim os seus braços generosos, no pessoal e no profissional. Conheci toda sua família, no “apê” que ficava no encontro da rua Guajajaras com Afonso Pena (se entrava pelo corredor do cinema Nazaré) e logo depois no seu primeiro apartamento próprio comprado na rua Viçosa do Bairro São Pedro, onde tinha um papagaio que gritava “Beijoca!” cada vez que ele chegava em casa. Assisti novelas da TV com a mãe do Mauricio e tomei as minhas primeiras aulas de lambada na sala da sua residência.

Pela mão do Maurício entrei na sua república em Ouro Preto (Reino do Baco) e foi durante um longo tempo o meu intérprete em “mineirês” tanto na convivência social como em alguns trabalhos técnicos que juntos publicamos na época.  Se hoje ainda sou algo brigão e um pouco ríspido (tenho tentado melhorar), as pessoas que nos conheceram sabem que Maurício entrou na minha defesa em muitas discussões técnicas e pessoais por minha causa, com destaque para o congresso de São Lourenço, MG (1992). Eu poderia ter aprendido mais com ele naquela época, mas, seguimos caminhos diferentes.

Mauricio fez boa carreira na CVRD, tanto no Potássio (Aracajú) como no Ouro (Fazenda Brasileiro), lugares que visitei e convivi alguns dias com ele e colegas. Maurício se renovou, fez cirurgia, tirou os óculos, fez a barba e foi um dos primeiros formandos de MBA no Brasil.  Fez parte do grupo de “Ouro” da CVRD, junto com Hélcio Guerra e Paulo Libânio, que em poucos anos levaram a CVRD a ser a maior produtora de Ouro do Brasil. Paulo Libânio dizia que Mauricio tinha “Deus no céu e Alexis na terra” e hoje sou eu quem têm o Mauricio no céu.

Maurício convidou a MOPE em 2007 para aplicar, com plena liberdade, toda a nossa criatividade no projeto Pedra de Ferro (Bamim) e, junto com o valioso aporte do Lafayette Caporali, viabilizamos o projeto mediante estratégia de Concentração Seletiva e ganhamos posteriormente um prêmio da Revista Minérios. (foto abaixo da equipe MOPE entregando um “Book” – na mão do Maurício – com os resultados de processos). Mauricio costumava me chamar de “boludo” ou “boludão” e aos engenheiros jovens da MOPE de “boludinhos”.

Maurício foi também internacional, dirigindo a implantação do novo porto da VALE na Malásia. Depois, como Diretor de Engenharia da VALE, tivemos a sorte de ajudar-lhe a revisar tecnicamente diversos projetos da companhia.

Ceamos juntos, com as nossas famílias, algumas noites de natal em diferentes anos da nossa convivência. Ainda, participamos de intermináveis tardinhas de violão e descontração na minha residência.

Depois de passar uma temporada no grupo Forbes&Manhattan, em Belo Horizonte, Maurício fez uma vez mais as malas e ficou durante vários anos na MRN, dirigindo a área de engenharia. A COVID o encontrou como VP na Anglo Gold Ashanti, justamente aqui em BH, no seu curto tempo de retorno e de convívio pleno da sua casa e família.

A mineração brasileira perde um brilhante representante da sua engenharia, corajoso, persistente e amigo dos seus amigos. Não vou parar aqui com esta crônica póstuma, nem muito menos esquecer do meu grande amigo, pois, para quem me conhece, sabe que o Mauricio vai continuar na minha cabeça, minha caneta e no meu PC, cada vez que diga, escreva e faça mais alguma modesta contribuição pela mineração brasileira. Mauricio poderá estar no céu, mas, aqui na terra, continuará uma parte dele comigo o tempo todo. Palmas para Mauricio Drumond, exemplo a seguir e muito a lembrar!

Alexis Yovanovic

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *