Cobre: Caraíba mostra o caminho

Enquanto a CODELCO, gigante mundial do Cobre e de propriedade do povo chileno atravessa graves problemas, a valente mineração Caraíba (Bahia) não apenas sobrevive há mais de 40 anos de dura caminhada, como também, depois de diversas inovações ao longo do tempo, hoje ilumina o caminho para que as grandes mineradoras possam sair do sufoco gerado pela abrupta queda nos teores dos minérios, somado à paralisia técnica que emana de velhos paradigmas.

Caraíba teria fechado as suas portas há mais de 20 anos, se não fosse a coragem e o senso de responsabilidade com a região onde se hospeda: fizeram surgir aquela criatividade que emerge nos momentos em que saímos das zonas de conforto. Precisaríamos de muito tempo e papel para relatar uma história tão extensa e repleta de sucesso como a escrita pela mineração Caraíba (fica para outra oportunidade).

Neste editorial destacamos que recentemente a Caraíba proporcionou novos elementos contrários ao principal paradigma que mantém imobilizadas as grandes mineradoras nestes últimos 40 anos. Este paradigma é a crença de que as rochas são normalmente homogêneas e geram fragmentos de idêntico teor e, portanto, ao não levar em consideração expectativas de pré-concentração, grandes rochas já poderiam ser alimentadas diretamente na operação de moagem SAG (moagem semiautógena),

A política controversa de moer e flotar todo o material que chega da mina, levou a CODELCO para uma situação muito preocupante e não se observa uma saída para este problema sem primeiro interromper radicalmente o paradigma que mantém adormecida a criatividade chilena. Por isso a importância do conceito aqui discutido.

A solução que se apresenta

A Caraíba já tinha feito tentativas bem sucedidas no seu projeto Boa Esperança (PA). Outra mineradora do Pará já nos comentou que pré-concentrava com sucesso o minério de Cobre antes de entrar na moagem. O projeto Serrote do Lage (AL), depois de decisão acertada da sua equipe de engenharia, retirou o moinho SAG da rota de processo e partiu para a moagem convencional. A Universidade de São Paulo (USP) está iniciando pesquisas sobre Concentração Seletiva, na fase de britagem.

O Brasil mostrou-se mais proativo ao enfrentar a queda dos teores de minério, problema comum da mineração mundial, particularmente no Chile, país que hoje constitui-se num mercado preferencial para grandes fornecedores de equipamentos por sua opção em beneficiar todo o excesso de ganga. A CODELCO tem seguido este caminho global, que alguns executivos chilenos chamam de “proyectos en estándares internacionales”, ou seja, sem levar em conta a criatividade que se requer perante grandes desafios.

Afortunadamente, o Brasil tomou consciência deste problema cedo, numa luta na qual a MOPE está diretamente envolvida, desde a sua origem.

A nova evidencia

Poucos dias atrás recebemos a notícia comunicada ao público pela ERO COPPER (proprietária do grupo Caraíba), em relação aos trabalhos de pré-concentração de diversos minérios de Cobre no interior da Bahia.

Ero Copper announces excellent results from comprehensive ore sorting trial campaign

Naturalmente, trata-se apenas de um teste e o “sorting” tem algumas limitações de escala de produção, apesar dos excelentes resultados obtidos. Há espaço para continuar a melhorar através da aplicação de técnicas de fragmentação seletiva (MOPE) que maximizam a seletividade na separação entre ganga e mineral. Além disso, deve-se considerar a remoção de poeira ultrafina, que traz muitos problemas ao processo.

Dados da tabela incluída dentro do link destacado acima podem ser ilustrados como na figura abaixo, tomando como exemplo o minério mais pobre do depósito de Vermelhos e também o minério mais pobre de Pilar, considerando material acima de 30 mm, que representa, em média, 70 a 85% de todo o ROM. Lembrando que este é apenas o começo da rota de beneficiamento, faltando otimizar a fragmentação e em seguida a moagem seletiva, que permitiria descartar mais ganga granulada do circuito. O pré-concentrado reduz a massa para 20% e aumenta o teor.

Mesmo ainda em fase experimental (há espaço para melhorias) a tendência é descartar uma enorme quantidade de ganga já na fase inicial do processo, como estimado nos casos especiais do exemplo acima – cada minério pode gerar um resultado diferente. A usina ficaria muito menor, principalmente nas operações de moagem, as mais caras de uma Concentradora.

Pela experiência da MOPE, consideramos que, dependendo da seletividade na fragmentação e pré-concentração, o teor de corte na mina poderia ser reduzido, aproveitando melhor as reservas.

Constata-se, mais uma vez, que as melhores soluções surgem de uma restruturação conceitual na mineração, com base no bom senso e experiência. A Caraíba tem isso de sobra, pois é dirigida por colega experiente e do ramo, contando ainda com uma equipe técnica qualificada.

Alexis Yovanovic

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