A Ruptura de paradigmas poderia evitar a ruptura de barragens

Nosso primeiro sentimento é de consternação e tristeza pela perda de muitas vidas neste recente acidente, em grande parte de funcionários e terceiros que trabalhavam para VALE. Depois disso, surge em nós uma sensação ruim de que a mineração – a nossa atividade profissional e de vida, está matando gente e agredindo o meio ambiente. Somos parte de um “monstro” que a sociedade enxerga cada vez com mais convicção.

A mineração podia ser melhor. Temos bons minérios e há uma excelente base tecnológica, profissional e acadêmica para redirecionar a mineração para um objetivo mais nobre que apenas extrair minério e vender. Depois do desastre fica em nós o sentimento de que algo devia ter sido feito para evita-lo. Como diz o Presidente da VALE; pouco ou nada aprendemos (com Samarco).

As causas

Do ponto de vista técnico a origem está na redução gradativa do teor de minério nas jazidas, obrigando a tratar cada vez mais ganga e a gerar mais rejeitos finos. Ao manter como um paradigma a mesma rota de beneficiamento do projeto original, muitas mineradoras caminham fatalmente para acidentes similares.

Do ponto de vista econômico, a mineração tem-se limitado a extrair e vender minério com pouca visão de participação na construção econômica e industrial do Brasil, pelo contrário, encomendando barcos, trilhos, vagões e locomotivas no exterior, numa evidente atividade colonial. Pela falta de compromisso com o desenvolvimento nacional a atividade mineral converte-se em algo passageiro, predatório, com pouca atenção para o ambiente, como de quem vive em casa alugada e toma pouco cuidado com a sua manutenção. Parte das causas pode ter vindo desse fato.

A nossa proposta

1 – A sociedade e o Estado brasileiro deviam agir para que a VALE (e a mineração em geral) trabalhe a favor do desenvolvimento nacional.

2 – Exigir novos estudos em projetos que envolvam incremento de geração de rejeitos finos e expansão de barragens em condições de algum perigo. Dar um prazo para regularizar, da forma indicada abaixo;

Revisar estruturas e as rotas de processo

Estipular prazo para as mineradoras em operação certificar a segurança estrutural e operacional das suas barragens (desta vez com maior rigor e com a “assinatura de responsabilidade dos responsáveis”).

Nos novos projetos (Green Field) e/ou alterações/ampliações em usinas existentes (Brown Field), as licenças somente seriam retomadas depois que as mineradoras demonstrassem ter estudado, testado e esgotado todas as possibilidades de pré-concentração à montante, desde a lavra, até comprovar ter reduzido drasticamente a geração de rejeitos finos e a redução da água contida nestes, dirigida às barragens.

Devemos repensar a mineração, em todos os seus aspectos. Se alguém se propõe a discutir opções, por favor, conte com a gente.

Alexis Yovanovic

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